terça-feira, 28 de julho de 2009
UMA VERGONHA: Planalto minimiza nota do PT e reafirma apoio a Sarney no Senado
Lula desautoriza Mercadante e diz que documento cobrando licença do aliado não reflete posição do partido
Leonencio Nossa e Vera Rosa
Preocupado em perder o apoio do PMDB na CPI da Petrobrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou ontem o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Em reunião do grupo de coordenação do governo, Lula afirmou que mantém o aval ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e disse que a nota assinada por Mercadante na sexta-feira, reiterando o pedido de licença do aliado peemedebista, não reflete a posição do PT.
Articulador político do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, não escondeu a contrariedade de Lula com o líder do PT. "O que nós avaliamos é que isso não é um movimento do PT", insistiu Múcio. "Imaginamos que seja o posicionamento de um ou dois senadores."
O movimento do governo tem o objetivo de conter o mal-estar provocado no PMDB com a nota divulgada por Mercadante há quatro dias. No texto de dez linhas, o senador considerou "grave" a revelação de que Sarney - alvejado por uma avalanche de denúncias - atuou para que o então diretor-geral do Senado Agaciel Maia reservasse uma vaga para Henrique Bernardes. O contratado era namorado de Maria Beatriz, neta de Sarney, conforme revelou o Estado.
A nota foi interpretada pelo Planalto como mais um gesto para dar satisfação aos eleitores. Dos 12 senadores da bancada petista, dez serão candidatos nas eleições do ano que vem e têm recebido fortes cobranças de suas bases pelo apoio a Sarney.
De qualquer forma, Lula também precisava jogar água no caldeirão do PMDB e escalou Múcio para a tarefa. "O presidente conversou com a bancada do PT 15 dias antes de tudo isso acontecer e não sentiu que o pedido de licença era uma posição de todos os senadores de seu partido", comentou Múcio.
Na prática, o vaivém do PT em relação à crise no Senado dura mais de um mês. Oito dos 12 senadores petistas são a favor do afastamento de Sarney - posição já manifestada em outras notas -, mas, como foram enquadrados pelo Planalto, protagonizam uma espécie de contorcionismo verbal, pois não podem se juntar à oposição para tirar o senador do posto.
Apesar de manter o aval a Sarney por avaliar que o apoio é necessário para a governabilidade e para eleger a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência, em 2010, Lula foi orientado a amenizar os elogios feitos ao aliado em seus discursos. Avaliações reservadas do Planalto indicam que o presidente "já fez tudo o que podia fazer" por Sarney e deve, agora, dizer que toda a investigação cabe ao Senado. Ao contrário da expectativa do governo, o recesso parlamentar não serviu para esfriar a crise.
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse que conversará com os senadores do partido, na próxima semana. Será mais uma tentativa de acertar um discurso único em relação a Sarney. "Tudo o que foi denunciado tem de ser apurado, mas pedir o afastamento de Sarney é o mesmo que propor um golpe", afirmou Berzoini. O deputado já havia demonstrado irritação com Mercadante no último dia 8, quando a bancada do PT no Senado pedira o afastamento de Sarney. "Produziram uma nota com vocação arqueológica, defasada no tempo", alfinetou Berzoini, na ocasião. Procurado pelo Estado, Mercadante não foi localizado ontem para comentar o assunto.
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