* Em diálogo gravado pela Polícia Federal, vice-presidente da CBF afirma ter centro de treinamento
* Fifa veda aos dirigentes de suas entidades negócios que se traduzam em ganhos para si mesmos
Por Leonardo Souza
Da Folha de S. Paulo
Em diálogo captado pela Polícia Federal, o empresário Fernando Sarney, vice-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), diz manter um negócio de venda de jogadores de futebol no Maranhão. O empreendimento não está declarado em seu Imposto de Renda do ano passado, segundo a Folha apurou.
Na conversa, gravada com autorização da Justiça, o filho do senador José Sarney (PMDB-AP) conta a um interlocutor não identificado que possui um centro de treinamento com 28 jogadores em Imperatriz (MA) e que no ano passado vendeu quatro deles para o clube Cruzeiro (MG).
O código de ética da Fifa veda aos dirigentes de suas entidades associadas, como a CBF, a realização de negócios que representem conflito de interesses e que se traduzam em ganhos financeiros pessoais, para parentes e amigos.
Uma das normas da Fifa determina também que a negociação de jogadores seja feita por agentes credenciados por suas entidades associadas. Fernando Sarney não está e nem poderia ser credenciado como agente na CBF por ser vice-presidente da entidade. A CBF informou que não iria se manifestar sobre o assunto por desconhecer a atividade exercida por Fernando e a investigação da PF.
A reportagem tentou falar com Fernando e seu advogado, Eduardo Ferrão. Foram deixados recados na TV Mirante, dirigida por Fernando, e no escritório do advogado, mas eles não ligaram de volta. O diálogo foi captado na Operação da PF, acompanhada pelo Ministério Público e pela Justiça Federal. Fernando Sarney foi indiciado por quatro crimes e é apontado como chefe de uma quadrilha que praticava tráfico de influência no governo, principalmente no setor de energia, comandado politicamente por seu pai.
A conversa sobre a venda de jogadores se deu no dia 27 de março do ano passado, às 10h10. Seu interlocutor não foi identificado pela PF, mas chama Fernando de “tio”. ”Outra coisa: eu tenho hoje um CT [centro de treinamento], eu tenho 28 jogadores permanentes, até 17 anos, ótimos meninos. Quando você entrar nesse negócio aí, se tiver alguém de fora, Europa, você se lembra de mim, que a gente pode ganhar uma grana boa, tá bom?”, diz Fernando. “Tá bom. Depois a gente conversa direito, porque tem esse cara aí”, diz o interlocutor.
”Esse cara, um dia desses, se quiser ir lá vai ficar empolgado. Eu tenho um negócio que, aqui em São Paulo, só o São Paulo tem, nem o Corinthians tem. Alojamento, os meninos moram lá. Eu vendi quatro para o Cruzeiro. Lindo!”, completa Fernando. O filho de Sarney tem uma participação ativa na CBF. Em fevereiro deste ano, por exemplo, chefiou a delegação da seleção brasileira no jogo contra a Itália, em Londres.
De acordo com as conversas captadas pela PF, Fernando atua em diferentes áreas empresariais e políticas. Além de comandar o conglomerado de comunicação da família, que inclui uma afiliada da Rede Globo, rádios e jornal, ele, segundo a PF, é sócio oculto do Grupo Marafolia (que realiza eventos festivos) e participa da indicação de cargos em estatais do setor elétrico. Fernando nega quaisquer irregularidades.
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