sábado, 25 de julho de 2009

Feudo de Agaciel serviu para acomodar aliados de Sarney

Diretoria-geral tem cerca de 200 vagas comissionadas, que também foram usadas para abrigar indicados de Renan e Mão Santa, tudo por atos secretosLeandro Colon

A nomeação do namorado da neta do presidente José Sarney (PMDB-AP) na diretoria-geral do Senado confirma que o ex-diretor Agaciel Maia usava as vagas de confiança do órgão como instrumento de poder para agradar aos senadores. A diretoria-geral possui cerca de 200 vagas comissionadas disponíveis para um pequeno espaço no terceiro andar do prédio principal do Senado. Muitos desses cargos foram criados por atos secretos.

Agaciel aproveitou para empregar indicados de Sarney, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Mão Santa (PMDB-PI), entre outros. No dia 26 de março de 2008, ele nomeou Rosângela da Silva Mourão para trabalhar na diretoria-geral. Mas ela sempre prestou serviços a Mão Santa no Piauí.

Outro ato confirma isso: no dia 2 de abril, uma semana depois, Rosângela foi nomeada para o gabinete do senador piauiense. Esqueceram-se de cancelar o ato que a colocava na diretoria-geral.

Só no mês seguinte um ato secreto cancelou essa medida. Procurado pelo Estado, Mão Santa não soube explicar a confusão. "Eu não sei o que ocorreu. Ela faz de tudo aqui no Piauí", afirmou. O advogado Walter Agra Júnior é assistente parlamentar da diretoria-geral desde 2007. Mas ele não cumpre expediente no Senado. Mora na Paraíba, onde é ligado ao senador Efraim Morais (DEM-PB). Na época da nomeação de Agra, Efraim era o primeiro-secretário do Senado.

Um ato secreto nomeou em 8 de abril 2005 José Góis Machado para trabalhar, teoricamente, no mesmo andar de Agaciel. Ele mora distante do Senado. Machado é aliado de Renan em Alagoas. Passou dois anos na folha de pagamento do Senado. Foi exonerado em outubro de 2007, também por ato secreto.

A secretária particular de Sarney se enquadra em caso semelhante. Assim como Henrique Dias Bernardes - que namorava a neta do senador quando ganhou emprego na diretoria-geral, cujo titular, por 14 anos, foi Agaciel -, ela aparece como funcionária do gabinete da mesma diretoria, segundo o Portal da Transparência do Senado.

O caso de Maria Vandira é curioso porque chega a ser o desvio do desvio de função. Foi nomeada, por ato secreto, em 30 de dezembro de 2003 para trabalhar como "assessor técnico" na Secretaria de Informática, conhecida como Prodasen. Na época, Sarney presidia a Casa pela segunda vez.

O ato foi assinado por Agaciel, mas Vandira nunca prestou serviços à área. Muito menos na diretoria-geral, onde hoje está lotada. Independentemente do local onde oficialmente ficou nos últimos 20 anos, nesse período ela sempre esteve com Sarney. O senador foi padrinho de seu casamento em 2007, numa festa para cerca de 800 convidados, incluindo toda a família Sarney. Caso parecido é o de Saib Barbosa Dib - é lotado na diretoria-geral desde 2003, mas trabalha para Sarney. É responsável pelo blog do senador.

TERÇO

Desde quarta-feira, quando o Estado revelou as gravações que ligam Sarney aos atos secretos, um apelo especial foi feito a um grupo de senhoras que se reúne todas as manhãs na gráfica do Senado para rezar o terço. Maria Perpétuo do Socorro de Araújo Cunha - frequentadora assídua da turma - pediu uma oração pelo futuro de Sarney.

Socorro foi nomeada por ato assinado pelo próprio senador em 1995. Maranhense e ex-assessora de Sarney, ela trabalha no serviço de atendimento ao usuário da gráfica.

O amapaense Janary Carvão Nunes é assessor do Interlegis, programa de ensino legislativo digital do Senado. Foi nomeado em outubro de 2004, durante a gestão Sarney. É filho de Janary Nunes, que governou o território do Amapá nos anos de 1950, quando ainda não era Estado.

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