quarta-feira, 15 de julho de 2009
Associação repassa verba de patrocínio à Fundação Sarney
Entidade de assistência, também ligada à família Sarney, recebeu dinheiro da Eletrobrás
Associação financiou festas em convento no MA que abriga a fundação; diretor da entidade é do gabinete do senador Lobão Filho
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Abom (Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês), entidade de assistência social ligada à família Sarney no Maranhão, repassou recursos obtidos por meio de patrocínio cultural para outra instituição associada ao clã: a Fundação José Sarney. Ambas ficam em São Luís.
A associação repassou à Fundação Sarney ao menos R$ 35 mil pelo aluguel de um espaço para festas -o pátio do Convento das Mercês, construído no século 17 e atual sede da fundação no centro histórico da capital maranhense.
Pelo menos uma destas festas foi financiada com dinheiro público. Trata-se do auto de Natal Canto de Luz, bancado pela Eletrobrás, controlada por aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No fim de 2008, a estatal destinou R$ 389 mil à Abom.
Há outra conexão entre a associação e a estatal. O diretor da Abom, Raimundo Nonato Pereira Filho, tem cargo no gabinete do senador Lobão Filho (PMDB-MA), filho do ministro Edison Lobão (Minas e Energia). A pasta é responsável pelo controle da Eletrobrás. Pereira Filho não quis falar ontem sobre os repasses.
A Abom também alugou o mesmo Convento das Mercês para realizar outro evento patrocinado, o Maranhão Vale Festejar, festa junina bancada pela Vale. As informações foram confirmadas ontem pelo diretor-executivo da fundação, Fernando Belfort. Ele diz que a entidade sobrevive do aluguel do Convento das Mercês para eventos. A sala para reuniões tem diária de R$ 1.000.
A oposição à governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), a acusa de explorar politicamente as duas festas. No caso da Vale Festejar, ela é apresentada nos meios de comunicação da família como "idealizadora" do evento, que ocorre há sete anos. Roseana nega o uso político.
Ambas as festas foram patrocinadas por recursos da Lei Rouanet, esquema de incentivo gerido pelo Ministério da Cultura. Ou seja, mesmo que os recursos tenham como origem uma empresa privada, eles geram renúncia fiscal.
Em 2007, o patrocínio para a Vale Festejar veio do Ministério do Turismo. Foram R$ 150 mil, dinheiro que a pasta diz não ter tido prestação de contas adequada. O episódio levou o governo a proibir repasses federais à Abom.
Criada em 2000, a Abom está intimamente ligada aos Sarney. Um dos fundadores é o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
A fundação, que tem José Sarney como presidente de honra, é suspeita de desviar recursos de outro patrocínio cultural. Em 2008, recebeu R$ 1,34 milhão para preservar o seu acervo, e terceirizou o serviço. Mas três empresários contratados, que receberam juntos R$ 124 mil, não souberam explicar que trabalho fizeram para a fundação.
As empresas são Shalom Assessoria Contábil e Fiscal (R$ 72 mil), MC Consultoria (R$ 40 mil) e a Souza Premiere (R$ 12 mil), contratada para fazer curso de história da arte.
Adão de Jesus Sousa, dono da Souza Premiere, não soube dar detalhes sobre o curso. "Eu terceirizo o trabalho", disse. (Da Folha de São Paulo)
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