quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SE O AMOR ACABOU, PRA QUE BRIGAR?????


Livre-se das alfinetadas quando a relação acaba
Encarar o processo de perda com consciência ajuda a seguir em frente


No auge do relacionamento, sobram as declarações de amor entusiasmadas, surgem os nomes para os possíveis filhos e envelhecer ao lado de outra pessoa é algo impensável, mas, no meio dos caminho, por algum motivo, a relação definha e acaba. E de repente, a vida se transforma em um verdadeiro palco de batalhas. De um lado, você, e do outro, ele. Agressões verbais e alfinetadas viram uma constante. No meio disso, o respeito, que antes era tão proclamado, fica cada vez mais pisoteado. "Por razões culturais, nos apegamos com muito mais facilidade às situações negativas do que as positivas, por isso as pessoas se prendem à raiva e a troca de insultos", explica o psicólogo Antônio Carlos Amador Pereira, da PUC (SP), autor do livro "Ou Eu, Ou Ela" (Editora Harbra).

Mas por que as discussões parecem ser a nova rotina após o término? Existe algum prazer nessa prática? "Toda separação é dolorosa. Mesmo que o processo seja amigável, é muito difícil aceitar que não é mais amado por alguém. É mais fácil encontrar uma desculpa e uma explicação do que aceitar que, de certa forma, morreu dentro do outro", explica o especialista.

A questão principal por trás do conflito é a difícil relação do indivíduo com a perda. Em geral, quem ataca, não consegue aceitar que perdeu, não consegue processar a perda como uma consequência natural da vida. "A pessoa não consegue aceitar que muitas vezes é necessário abrir mão de algo", diz Amador Pereira.

Também faz parte desse entendimento considerar que a relação pode continuar, porém com outra natureza. "Para uma casal que se divorcia, por exemplo, o homem não é mais o marido, mas continua sendo os pais dos filhos. E isso é algo que precisa ficar claro para as próprias crianças, para evitar conflitos. Isso precisa ser respeitado em nome do desenvolvimento saudável dos filhos", explica o psicólogo.

Hora de sacudir a poeira
Só que construir a relação sobre novas bases também passa por perdoar e superar os desentendimentos. Depende muito de quanto um magoou o outro, mas é sempre preciso tentar. "O perdão é bom para os dois lados. Acho que foi William Shakespeare quem disse que 'Guardar rancor é como beber veneno e ficar esperando que o outro morra'. Isso porque, quando você perdoa, você se liberta e redefine o ex-parceiro, ou seja, para de demonizá-lo e segue em frente", avalia. Mas não é só isso.

O indivíduo deve se conscientizar que precisa e, principalmente, pode abrir espaço para o novo. "Esse comportamento de se apegar ao velho - como o cachorro que se apega ao osso -, e de remoer a mágoa faz com que ela pare de viver e que o outro também", diz Amador Pereira.

Essa é a principal reclamação da geóloga Carolina Soares, 27 anos, ainda em fase de discussões com o ex. "Eu sinto falta de colocar um ponto final na história, porque dificulta começar outra, com outra pessoa", salienta. "Quando um relacionamento acaba numa briga, fica difícil não questionar o que aconteceu e qual o motivo. Qualquer conversa depois disso pode te trazer respostas, ou mais dúvidas ainda - depende de como você encara os fatos. Vai ver que é a necessidade de concluir algo, o namoro, a conversa. E quando tudo acaba em briga mais uma vez, a gente retoma, quer explicações. Lágrimas não são argumentos", questiona.

Prazer em discutir
Outro ponto dos conflitos pós-namoro é o ciclo vicioso e sadomasoquista do gosto pela situação conflituosa. "Cria-se então uma relação afetiva ao avesso em que o amor dá lugar para a mágoa", diz Amador Pereira. Os ex-parceiros se comportam como se estivessem em um jogo psicológico, onde estão tão cegos, que chegam a acreditar que um deles se sagrará vencedor e, ao contrário, ambas as partes perdem, porque ficam estacionadas no mesmo lugar.

A decoradora de ambientes Estela Brahms , 31 anos, conta que enquanto estava namorando nunca teve certeza se era mesmo o que queria, mas quando o rapaz colocou o ponto final no namoro de dois anos, ela "surtou". "Não aceitava o fato de jeito nenhum. As conversas sempre acabavam em troca de ofensas, e seguiu assim por muitos meses depois do término", conta ela. "Só que chegou num ponto em que eu precisava discutir para mostrar o quanto eu era genial, procurava briga para acabar com os meus dias entediados. Virou vício", revela ela. A solução para Estela só foi encontrada no divã da terapia. "Quando consegui olhar para aquilo tudo com clareza, me senti envergonhada. Toquei a vida, mas não somos mais amigos. Acho que machucamos demais um ao outro", conclui.

Quem pode me ajudar?!
Não é tempo cronológico que vai definir quando uma pessoa precisa de ajuda profissional, de um terapeuta ou psicólogo, mas sim o quanto ela permanece com os mesmos sentimentos e não avança.

Faz parte de um exercício de sanidade mental entender que as decepções, maiores ou menores, são um efeito colateral da vida, mas também passa por ter uma visão menos egocêntrica e mais humilde da própria existência a de que mundo não gira só ao nosso redor. "É importante adaptar os desejos à realidade, mas compreender que nem sempre isso será possível", explica o psicoterapeuta explica o psicoterapeuta Chris Allmeida."Ficar triste não é uma doença, mas a manutenção da tristeza e de abandono merece ser estudado", avalia. "É a lamúria e a lamentação que alimentam a decepção", diz o especialista.

De acordo com os especialistas, o indivíduo precisa entender e aprender a desatar o nó que faz com que ele queira carregar o fardo do relacionamento que já acabou. É provável que a pessoa tenha coisas a resolver com o ex, e se estiver engasgado, deve desabafar, sim, não precisa reprimir. "Mas siga adiante, não fique batendo na mesma tecla. Fale para se libertar e não para virar uma briga sem fim", aconselha Amador Pereira.

Em geral, a ajuda profissional vai ajudar a pessoa a encontrar respostas para se resolver internamente e não, necessariamente, com o ex. A análise pode revelar um padrão de comportamento. Trata-se de uma busca mais profunda, em que a pergunta a ser feita não é "Por que isso sempre acontece comigo", mas sim "Por que eu sempre faço isso?" ou ainda "Por que eu privilegio pessoas desse tipo". Afinal, cada um faz suas próprias escolhas.

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