quinta-feira, 16 de julho de 2009

FUNDAÇÃO JOSÉ SARNEY UMA MAR DE ESCÃNDALOS:Ministério nega pedido de entidade ligada à família Sarney para incluir médicos em projeto com Lei Rouanet


Associação tentou verba para ginecologistas
Ministério nega pedido de entidade ligada à família Sarney para incluir médicos em projeto com Lei Rouanet

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA)

Ao tentar buscar recursos para uma escola de música para crianças carentes de São Luís (MA), uma entidade que toca projetos da Fundação José Sarney incluiu na proposta enviada ao Ministério da Cultura itens com preço acima de mercado e sem relação com a atividade, entre eles o pagamento de ginecologistas.
O projeto, apresentado pela Abom (Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês), foi aprovado "com ressalvas" pelo MinC e, por causa do sobrepreço, revelado terça-feira pelo Painel, sofreu um corte de R$ 210 mil.
O ministério autorizou investimento total de R$ 978 mil via Lei Rouanet. Agora, quem estiver disposto a bancar a Escola de Música do Bom Menino do Convento das Mercês terá direito a incentivos fiscais. A associação, que já recebeu patrocínios de estatais, procura interessados.
Além das suspeitas de sobrepreço e de desvio de finalidade, o projeto cultural revela também a ligação estreita entre a Abom e Fundação José Sarney, que tem como presidente de honra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Em seu site, a fundação divulga a escola de música como um projeto seu, desde 1993.
Além disso, documentos obtidos pela Folha mostram que as duas entidades têm sete diretores em comum, entre eles, Ronald Furtado Sarney, irmão do presidente do Senado.
Pelo segundo dia consecutivo, representantes das duas entidades não foram localizados para falar sobre os patrocínios.
No projeto da escola de música, a Abom incluiu orçamento de R$ 24 mil para o pagamento de médicos de diferentes especialidades. O MinC vetou, alegando que esse tipo de despesa não pode ser financiado por meio da Lei Rouanet.
A Folha esteve na sede da Abom. Não há sinal de atendimento médico. Os moradores do local dizem que médicos, inclusive ginecologistas, dão plantão na sede da fundação, localizada no prédio vizinho, o Convento das Mercês.
"Hoje mesmo medi minha pressão [no convento]. Minha mulher, grávida de sete meses, já fez consulta com ginecologista. Os médicos atendem uma vez por semana", disse Luís Nogueira, 62.
Presidente da associação de moradores local, Francinaldo Rodrigues, 43, diz que a fundação é a principal responsável pela assistência social a pessoas que vivem no entorno do convento.
Para as aulas de música, oferecidas na Abom, a entidade previu gastos com instrumentos musicais acima do mercado. Os técnicos do ministério reduziram, por exemplo, o valor do item "saxofone alto" a menos da metade do previsto inicialmente -de R$ 43 mil para R$ 20 mil.
O Ministério da Cultura não informou se o valor citado se refere a um item ou a um conjunto de instrumentos. Em três lojas consultadas pela Folha, o saxofone alto mais caro disponível, da marca Yamaha, custava R$ 4.490.
Os técnicos também cortaram os gastos com pessoal. O orçamento de alimentação foi reduzido de R$ 302 mil para R$ 160 mil. O de impostos, com a redução do projeto, caiu de R$ 80 mil para R$ 52 mil.

Nenhum comentário: