terça-feira, 28 de julho de 2009

Deu na Folha de S. Paulo: Sócio de Dantas fez doação para Sarney


Empresário no porto de Santos bancou 17% da campanha do senador, que indicou diretor de agência que regula o setor

O grupo de Richard Klien detém 30% da Santos Brasil, que administra o terminal de contêineres; Dantas tem 39%, e Dório Ferman, 30%

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador José Sarney (PMDB-AP) recebeu em 2006, como doação para a campanha que o reelegeu, R$ 270 mil do empresário Richard Klien, sócio do banqueiro Daniel Dantas, indiciado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e condenado no ano passado por corrupção pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.

A filha do senador, Roseana, recebeu de Klien mais R$ 240 mil para sua candidatura derrotada ao governo do Maranhão -ela acabou tomando posse em abril, depois que o eleito foi cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O clã Sarney ficou com 83% do total doado pelo empresário em 2006 -17% dos gastos totais da campanha de Sarney.

Os outros candidatos apoiados pelo empresário em 2006 foram Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Índio da Costa (DEM-RJ), com R$ 50 mil cada um.

No ano passado, Klien doou R$ 250 mil para o Diretório Nacional do PT, em Brasília, e o suplente do conselho de administração da empresa, Thomas Klien, doou R$ 150 mil para o Diretório Nacional do PSDB.

Richard Klien é sócio de Daniel Dantas na Santos Brasil, que administra o terminal de contêineres do porto de Santos (SP), privatizado em 1997. A empresa é considerada a maior do setor na América Latina, com uma receita bruta de R$ 818,5 milhões no ano passado.

A política sobre os portos no Brasil está na área de influência de Sarney. É indicação dele o atual diretor-geral da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), Fernando Antonio Brito Fialho, que foi diretor da Emap (Empresa Maranhense de Administração Portuária). Seu pai, Vicente, foi prefeito de São Luís (MA) e trabalhou com Sarney.

Fialho tomou posse em julho de 2006 e foi reconduzido ao cargo em 2008. Ele negou à Folha qualquer ingerência do senador na Antaq. "Jamais. Eu tenho, sim, uma grande amizade pelo senador Sarney e minha indicação ocorreu dentro de um ambiente político, mas respaldado no critério técnico. Eu tinha experiência na área. Eu não sofri, em momento algum, nenhum tipo de pressão ou pedido", disse Fialho.

A Antaq, vinculada ao Ministério dos Transportes, é a agência encarregada de regular e fiscalizar a exploração dos portos, entre outras atribuições.

As medidas baixadas pela agência têm impacto direto nas atividades da Santos Brasil. Gravações telefônicas feitas com ordem judicial na Operação Satiagraha mostraram representantes de Dantas no conselho da Santos Brasil assustados com a possibilidade de mudança de regras no setor, então em estudo pela Antaq. Chegaram a levantar suspeitas contra a senadora Kátia Abreu (DEM-GO) que não se confirmaram -ela reagiu e ameaçou processar os detratores.

Richard Klien -que não foi investigado pela Operação Satiagraha- é sócio de Dantas desde 1997, quando criaram o consórcio que levou o terminal de Santos. Eles reforçaram a sociedade em 2006, com a consolidação da participação do Opportunity no bloco de controle da empresa e o aumento da participação do grupo de Klien. Ele adquiriu cotas dos outros sócios originais do consórcio, a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), a Sistel (fundação de seguridade social) e o conglomerado bancário americano Citigroup.

Por meio do Opportunity Fund, criado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, Dantas detém 39% da empresa. Outros 30% pertencem à empresa PW237, cujo dono é Dório Ferman, presidente do banco Opportunity e próximo de Dantas. Mais 30% das ações estão nas mãos da empresa de Klien, o Grupo Fink.

O conselho administrativo da Santos Brasil, presidido por Klien, tem como membros a irmã de Dantas, Verônica, e outros dois executivos indiciados pela Operação Satiagraha.

A Santos Brasil é referida na denúncia apresentada pelo procurador da República Rodrigo de Grandis no bojo da Operação Satiagraha.

Em depoimento, o presidente da Santos Brasil, Wadi Jasmin, afirmou que o publicitário Guilherme Sodré fora contratado pela empresa, com salário que variava de R$ 20 mil a R$ 30 mil mensais, "apenas para agendar reuniões com políticos". Disse que Sodré "consegue agendar reuniões de diversos partidos políticos", com o objetivo de fornecer "as tendências gerais da política".

O procurador também pediu a abertura de um inquérito policial específico para investigar os cotistas que formam o fundo do Opportunity em Cayman, sócio da Santos Brasil.

Senador diz desconhecer a sociedade


A assessoria do senador José Sarney (PMDB-AP) informou, por e-mail, que o empresário Richard Klien "sempre foi um doador declarado na Justiça de campanhas eleitorais".

Segundo a assessoria, José Sarney desconhecia que Klien fosse sócio de Daniel Dantas, com quem teria estado apenas uma vez, num encontro aberto.

O senador disse não se recordar se, alguma vez, relatou projeto de lei na área de portos. A assessoria informou ter feito um levantamento nos arquivos do Senado e localizado apenas um, da década de 70, cujo parecer do senador foi pela inconstitucionalidade de uma tentativa de isenção de contribuições previdenciárias na área dos portos.

Klien, procurado desde a semana passada, não foi localizado. A assessoria da Santos Brasil informou que as doações do empresário foram feitas "em caráter privado", sobre as quais "não influem considerações dos sócios ou do conselho administrativo da empresa".

A assessoria do banco Opportunity informou que Dantas e o banco "nunca discutiram com Klien suas doações pessoais para campanha". Informou ainda que Dantas já esteve com Sarney, mas que o banqueiro "nunca tratou de financiamentos eleitorais" com ele, e negou irregularidades no trabalho do publicitário Guilherme Sodré. (RV)

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