Se nos tempos de jogador Dunga não tirava o pé quando uma dividida surgia à sua frente, agora, na função de treinador, a filosofia do ex-volante permanece intacta. Na véspera do confronto com a Holanda nas quartas de final da Copa do Mundo, o técnico da seleção respondeu um desaforo do ex-atleta Johan Cruyff e aumentou sua lista de troca de farpas públicas com personalidades da bola.
No incidente em questão, o antigo ídolo da seleção holandesa afirmou que não pagaria para ver a seleção brasileira jogar, em razão da falta de criatividade do time atual e do excesso de jogadores de força, de acordo com argumentos de Cruyff. "Onde está a magia?", indagou o craque da Copa de 1974 em entrevista a um jornal inglês. Mas Dunga não deixou por menos, com resposta fina.
"Há muitos jogos para ele escolher. Na democracia você escolhe a partida que quiser, compra o ingresso e vai. Mas ele seguramente tem ingresso de graça da Fifa e por isso não paga", declarou o treinador brasileiro na entrevista coletiva na véspera do jogo com a Holanda em Port Elizabeth, que acontece nesta sexta.
Desta forma, voluntariamente ou não, Dunga vê crescer sua lista de “bateu, levou” com personalidades do mundo do futebol, escancarando sua aversão às 'meias palavras', a todo o exagero diplomático tão comum entre os colegas de profissão.
Em outro caso no ano passado, o treinador rebateu o ex-jogador alemão Franz Beckenbauer a respeito de um tema semelhante ao diálogo com Cruyff.
Durante a Copa das Confederações de 2009, Beckenbauer afirmou que não reconhecia no time de Dunga o verdadeiro futebol brasileiro. O treinador da seleção retrucou sem pestanejar quando confrontado ao depoimento do alemão:
"Opinião todo mundo pode dar. Mas os números não são uma opinião. É só ver quantos gols o Brasil fez e comparar com as outras. Nas eliminatórias temos o melhor ataque. Isso não é opinião, são números. Contra números não há argumento", afirmou o treinador à época.
Além de craques do passado, Dunga já se chocou com gente da pesada, como o dirigente número 2 da Fifa, Jérôme Valcke. Dias antes da Copa, em meio a uma onda de críticas de brasileiros em relação à qualidade da bola Jabulani, o secretário-geral da entidade insinuou que os depoimentos se constituíam numa desculpa antecipada para uma futura derrota.
De bate-pronto, Dunga defendeu seus jogadores, argumentando que o engravatado Valcke não entendia do riscado por jamais ter jogado bola. A polêmica voltou apimentada ao dirigente da Fifa, que esfriou a conversa via microfones da imprensa dizendo que "amava" o treinador brasileiro.
Mas nem sempre Dunga vai à batalha com alguém que levanta a palavra em sua direção, ou contra a seleção. No fim de 2008, quando assumiu o comando da Argentina, Maradona afirmou que seria um técnico diferente do colega brasileiro, com uma provocação explícita: "Eu não jogo como o Dunga. Dunga batia. Eu driblava". Esse comentário passou sem réplica na época.
Fonte: Site UOL (Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Port Elizabeth (África do Sul)