terça-feira, 14 de julho de 2009

A FUNDAÇÃO DE JOSÉ SARNEY (*)


A Fundação da Memória Republicana teve seu nome alterado para Fundação José Sarney... mas, para o presidente do Senado, não é de responsabilidade administrativa dele essa alteração.

A Fundação José Sarney tem um estatuto que fala em José Sarney 12 vezes. E, no artigo 19 do capítulo 5, registra que ela possui um "presidente vitalício": José Sarney. Se ele morrer, a presidência é de Marly Sarney, sua esposa. Se ela morre, fica com Roseana ou Fernando ou Sarney Filho. Sem nenhum deles, fica com os netos. Enfim, a fundação é dos Sarneys! Mas o senador amapo-maranhense não tem "nenhuma responsabilidade administrativa" sobre a fundação...

O estatuto coloca ainda que o fundador da entidade, entre várias outras funções, possui a de assumir responsabilidades financeiras. Sarney, no entanto, deve entender que responsabilidade financeira é uma coisa; administrativa, outra. Por isso, ele se justifica dizendo que não é dele qualquer responsabilidade administrativa.

A Fundação tem um membro fundador que possui poder de veto sobre qualquer decisão de seu Conselho Curador. Ou seja, sem a anuência e vontade dele, nada acontece. Adivinha de quem é esse poder de veto? Dele mesmo, do "Jota Esse"! Poder de veto dele junto a um conselho que tem entre seus membros a filha, o filho, o genro e dois muy amigos! Pelo visto, para Sarney, não dá pra confiar nem na sombra.

Pelo estatuto, compete a Sarney presidir reuniões do conselho curador, orientar atividades e representá-la em juízo. Mas o velho oligarca não se sente com qualquer responsabilidade administrativa sobre a Fundação que leva seu próprio nome.

O Conselho Fiscal da Fundação José Sarney é composto de três membros: um é assessor de ministro indicado por ele para o Governo Federal; outro é seu assessor na presidência do Senado; o terceiro é também amigo dele. Mas Sarney não tem qualquer responsabilidade administrativa sobre a Fundação, rebateu de própria voz, sentado na cadeira da presidência do Senado Federal.

O presidente em exercício da Fundação só o é por procuração do "dono de fato" da fundação, o próprio senador de Curupu. Mas ele não tem qualquer responsabilidade administrativa sobre a Fundação...

Todas essas informações estão no estatuto da entidade registrado em cartório; em livro de tiragem esgotada, do jornalista Emílio Azevedo, que expõe o "Caso do Convento das Mercês"; nas páginas do Jornal Pequeno em diversas matérias; e, agora, é de conhecimento da opinião pública nacional pelas páginas do jornal O Estado de São Paulo e outros veículos nacionais de comunicação.

Um conjunto de evidências, fatos e provas que desmontam a afirmação de José Sarney, ao plenário do Senado Federal, para justificar que nada tinha a ver, nada sabia dos desvios de dinheiro para empresas fantasmas e de sua família de recursos de R$ 1,3 milhão (um milhão e trezentos mil reais) da Petrobras a sua Fundação José Sarney para projeto de digitalização de acervo que nunca saiu do papel...

Um mentira, para defender-se de uma maracutaia, e 81 senadores enganados.

Até quando senadores e senadoras engolirão a seco as mentiras do velho coronel? Na internet, nas ruas, nas páginas do jornais, a opinião pública já deu o seu recado. Depois de até contas secretas no exterior (e esse é outro mega-escândalo!), parece faltar pouco para afundar o barco de Sarney. Ou vai ele, ou se vão os 54 senadores que disputarão eleições do ano que vem. Porque a credibilidade da instituição Senado, com a permanência de Sarney na presidência, já se foi!

(*) Franklin Douglas, jornalista e professor universitário, é editor do blogue Ecos das Lutas(http://www.ecosdaslutas.blogspot.com/

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